sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sofia, a estúpida

Pronto, já chorei.

Aquela actividade habitual a que me dedico nos momentos de frustração.

Choro e depois escrevo: aqui no blog, num post-it, no verso de um recibo, no canto de uma fotocópia obsoleta, às vezes em papéis oficiais nos quais não o deveria fazer, outras vezes ainda só na minha intrincada imaginação.

Quase sempre de noite, quase sempre quando todos já se deitaram, quase sempre com o receio antecipado de não conseguir adormecer. Hoje precavi-me. Já dei a Morfeu uma ajudinha farmacológica para que a noite não me traga mais dissabores.

Planeio ler mais qualquer coisa, fingir que estudo, ocupar parte do meu cérebro com alguma coisa que não sejas tu. A seguir vou recostar-me no sofá da sala, ver um episódio gravado de Criminal Minds e esperar que envies a mensagem que não vais enviar para que eu confirme a minha suspeita: sou fraca.

Talvez adormeça por ali, com a manta a cobrir-me o corpo friorento, o comando num equilíbrio precário entre a beirinha do sofá e a atmosfera, a televisão sem som a projectar imagens para a multidão de ninguéns que vive na minha sala a essa hora.

Umas horas depois do esperado vais dizer alguma coisa. Com um smile pelo meio e beijinhos como se fossem 2 da tarde, dia de sol em pleno Verão e eu a acabar de acordar numa cama sumptuosa.

É provável que responda um impropério qualquer, as minhas defesas já suplantadas pelo tardio da hora e pelo efeito do fármaco. Mas como sou fraca e previsível pedirei desculpa logo pela manhã como se a ofensa fosse minha, só para poder esconder, por um bocadinho que seja, esta nuvem negra que sobre mim paira, que é tu zangares-te e ires embora.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Fix You (by Coldplay, featuring my life probably)

When you try your best, but you don't succeed
When you get what you want, but not what you need
When you feel so tired, but you can't sleep
Stuck in reverse

And the tears come streaming down your face
When you lose something you can't replace
When you love someone, but it goes to waste
Could it be worse?

Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you

And high up above or down below
When you're too in love to let it go
But if you never try you'll never know
Just what you're worth

Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you

Tears stream down on your face
When you lose something you cannot replace
Tears stream down on your face
And on your face I...

Tears stream down on your face
I promise you I will learn from my mistakes
Tears stream down on your face
And on your face I...

Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try to fix you

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Chorar





Ouço esta música e o meu coração encontra-se. Em cada batimento um pequenino segredo que se revela. Daqueles que são só nossos e que por vezes catalogamos em sussurros só para termos a certeza que continuam aqui, enclausurados nas suas pequeninas gaiolas douradas, empacotados com uma data e um nome.

Eu choro e ninguém sabe. Cada lágrima é a catarse necessária. Eu choro e ninguém sabe. Sofrem tão mais do que eu. Eu choro e ninguém sabe. A melancolia é o mar em que eu nado e respiro, não tentem vir buscar-me. Eu choro e ninguém sabe. Regresso em paz das lágrimas, salva para os braços de quem gosto.

E esta música é como chorar.

domingo, 17 de outubro de 2010

Não gosto da parábola do filho pródigo

Não gosto da parábola do filho pródigo.

Não gosto que matem bois para alimentar ingratos.

Não gosto que a palavra de alguém ausente valha mais que 1000 acções de quem está sempre lá.

Não gosto de sentir medo que o meu mundo se desmorone porque alguém acordou mal-disposto.

Não gosto que matem bois para festejar o regresso de quem não queria voltar.

O filho pródigo que nunca me bata à porta pois corre o risco de dormir na rua.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O dia em que eu nasci

...

- Têm a certeza que querem pôr a cruz no pack sonhadora/idealista?
- Sim, temos.
- Muito bem. Aqui está a vossa filha.

...

A minha casa nova

Li avidamente tudo aquilo como se a minha vida dependesse disso.

Senti crescer a ansiedade mas ainda assim insisti. Tinha de descobrir um segredo que abrisse a tua alma de par em par, que te expusesse de forma tão inequívoca que não pudesses jamais esconder de mim o que quer que fosse.

Aquilo que consegui foi tão diferente. Começaste a construir-te em palavras que não queria ler, em histórias que não queria saber, em momentos que preferia que ficassem para sempre enclausurados no local em que tinham, vergonhosamente, acontecido. Aquela náusea já familiar ocupou-me e eu desliguei tudo.

Não interessa o que aconteceu logo a seguir. Só interessa que nesses dias cresci para lá de 1 metro de altura e envelheci para lá de 10 anos. Muitas palavras alheias que tinha acumulado no baú dos conselhos indecifráveis começaram a fazer sentido; melhor, fizeram sentido de uma forma tão crua e violenta que demorei algum tempo a voltar a mim e a reorganizar as minhas prioridades.

O passado ficou lá fora, a flutuar no corredor húmido e bafiento. Tu entraste em minha casa e ocupaste o sofá vazio e confortável junto à lareira. Eu deitei fora algumas coisas que já não faziam falta, repus no seu devido lugar molduras que tinha escondido numa gaveta, até fui tolerante com a aranha teimosa que construiu uma teia fenomenal no cantinho da varanda.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sedativo

Pela milésima vez hoje encosto a cabeça à página fria e fecho os olhos por um instante.

A luz branca do candeeiro de mesa é intensa e continuo a adivinhá-la mesmo com as pálpebras cerradas. Gradualmente, a claridade difusa dá lugar a uma série de flashes anárquicos e só depois a escuridão começa a instalar-se.

Não interessa. O dia está quase no fim e já pouco importa se fico assim, imóvel e semi-adormecida, durante cinco minutos ou meia hora. Não me deito porque estou à espera que o telemóvel emita aquela vibração familiar, como a concluir oficialmente o dia e a autorizar a minha consciência a desligar-se.

Sim, acho que tenho medo da sombra que se recorta na parede verde, da maneira como muda de tamanho quando me afasto e me aproximo, da sua cor cinzenta e inexpressiva, da capacidade que tem de sair de mim e transformar-se numa coisa tão diferente... tão vazia. Por isso quando fecho os olhos, alivio os receios, ela continua lá mas eu não a vejo.

É improvável que adormeça antes da minha autorização escrita. O coração percorre lentamente o caminho do peito até ao pescoço e ali se aninha, como sempre, num lugar que já se habituou a ocupar nas horas de inquietação. Os meus dedos estão frios, em contraste com a cara quente e com o bafo morno que sai do portátil mesmo aqui ao lado.

De súbito uma vibração rude enche o ar. Estendo a mão e os olhos pousam na luz do aparelho.

Sim, já posso ir dormir.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Prelúdio

O Silêncio não pode durar para sempre.

Não quando as pessoas, o tempo e a vida são insuficientes para que deixe de haver coisas por dizer. Agora é suposto que tenha segredos. É suposto que deles cuide dentro de mim, secretamente, como um jardim de plantas raras que murchará tão só seja visto por um olhar estranho.

E assim eu escrevo na sombra. Olhos postos em mim apenas quando não posso ser vista. Saudades minhas apenas quando estou fora de alcance. Desejo de me abraçar apenas quando sou uma memória vaga e ofuscada pelo tempo.

Mas assim tenho o conforto de não desiludir, de não me atrasar, de não ferir sentimentos.

E num mundo onde se cresce depressa mas mal, onde todos tentam chegar ao topo de qualquer coisa não interessa qual, o meu maior desejo é chegar aqui e não ser ninguém.

É que a ser ninguém eu sempre fui muito boa...