Pela milésima vez hoje encosto a cabeça à página fria e fecho os olhos por um instante.
A luz branca do candeeiro de mesa é intensa e continuo a adivinhá-la mesmo com as pálpebras cerradas. Gradualmente, a claridade difusa dá lugar a uma série de flashes anárquicos e só depois a escuridão começa a instalar-se.
Não interessa. O dia está quase no fim e já pouco importa se fico assim, imóvel e semi-adormecida, durante cinco minutos ou meia hora. Não me deito porque estou à espera que o telemóvel emita aquela vibração familiar, como a concluir oficialmente o dia e a autorizar a minha consciência a desligar-se.
Sim, acho que tenho medo da sombra que se recorta na parede verde, da maneira como muda de tamanho quando me afasto e me aproximo, da sua cor cinzenta e inexpressiva, da capacidade que tem de sair de mim e transformar-se numa coisa tão diferente... tão vazia. Por isso quando fecho os olhos, alivio os receios, ela continua lá mas eu não a vejo.
É improvável que adormeça antes da minha autorização escrita. O coração percorre lentamente o caminho do peito até ao pescoço e ali se aninha, como sempre, num lugar que já se habituou a ocupar nas horas de inquietação. Os meus dedos estão frios, em contraste com a cara quente e com o bafo morno que sai do portátil mesmo aqui ao lado.
De súbito uma vibração rude enche o ar. Estendo a mão e os olhos pousam na luz do aparelho.
Sim, já posso ir dormir.
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