segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A lua antecipa-se à escuridão total enquanto a princesa penteia 100 vezes o cabelo à janela do castelo de betão e tijolo:

Não tenho para jeito para me ir embora.
E por isso vou ficando, mesmo que as flores definhem e o vento gélido me anestesie os sentimentos. Encostada gentilmente à parede, a fumar um cigarro invisível, enredada no vício de aqui estar.

Sinto aquela náusea dos amores não correspondidos, dos amores antigos revisitados, dos amores não compreendidos.

Nem sequer há dragões que impeçam de aqui chegar, não há floresta densa nem mitos de uma morte lenta, mas ainda assim não tenho na minha curta vida visto príncipes, a cavalo, a pé ou de lambreta, ou aos trambolhões, ou empurrados ou sequer enganados à procura do caminho para o mundo sem-princesas.

Ouvi uma música e comecei uma incrível história da conspiração, parece portanto que o mundo é deserto de romantismo e o meu destino é tropeçar nas pegadas dos outros. É por isso que são estas belas horas da madrugada e eu aqui estou, o cabelo penteado, a fazer um curativo no pé direito, violento que foi o pontapé que dei na parede em que vivo encostada.
"Não cuspas na mão que te alimenta", remói ela na sua perplexidade de cimento.
E deve ter razão.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Ring, Ring

Ring... Ring...

The cellphone.

My head.

Soundtrack of those lazy hours, my anxiety growing over the room.

Ring... Ring...

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A Princesa

O mundo mudou enquanto adormeci.

Foram dias e semanas, a respiração profunda, entrecortada por monossílabos indecifráveis e canções.

Cheguei coberta com a areia dos sonhos e agora os lençóis abraçam-me, num confortável mas mundano aconchego.

Os meus sonhos imutáveis, adormecidos no seu caixão de ouro, adornados com a hera dos séculos, pouso neles a minha mão bronzeada e quero a mão branca da princesa que já fui.

Não sei que lógica é esta que me agarra aos caminhos de poeira, fustigados pelo sol, sem uma sombra de árvore onde refrescar o cabelo em chamas, sem uma nascente de água onde acalmar o ardor dos lábios. Só porque o final é a promessa daquele canapé de vidro, que é o amor de me quereres sempre contigo e nunca haver cansaço nas nossas mãos dadas.

E se me dizes que não consigo, quebrarei as pétalas que deixaste cair, sem fúria, sem pena, apenas num suspiro de recordação por terem sido, um dia, tão belas.