sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A minha casa nova

Li avidamente tudo aquilo como se a minha vida dependesse disso.

Senti crescer a ansiedade mas ainda assim insisti. Tinha de descobrir um segredo que abrisse a tua alma de par em par, que te expusesse de forma tão inequívoca que não pudesses jamais esconder de mim o que quer que fosse.

Aquilo que consegui foi tão diferente. Começaste a construir-te em palavras que não queria ler, em histórias que não queria saber, em momentos que preferia que ficassem para sempre enclausurados no local em que tinham, vergonhosamente, acontecido. Aquela náusea já familiar ocupou-me e eu desliguei tudo.

Não interessa o que aconteceu logo a seguir. Só interessa que nesses dias cresci para lá de 1 metro de altura e envelheci para lá de 10 anos. Muitas palavras alheias que tinha acumulado no baú dos conselhos indecifráveis começaram a fazer sentido; melhor, fizeram sentido de uma forma tão crua e violenta que demorei algum tempo a voltar a mim e a reorganizar as minhas prioridades.

O passado ficou lá fora, a flutuar no corredor húmido e bafiento. Tu entraste em minha casa e ocupaste o sofá vazio e confortável junto à lareira. Eu deitei fora algumas coisas que já não faziam falta, repus no seu devido lugar molduras que tinha escondido numa gaveta, até fui tolerante com a aranha teimosa que construiu uma teia fenomenal no cantinho da varanda.

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