domingo, 12 de fevereiro de 2012

Suficiente

As personagens que eu criei para mim própria atormentam-me.

A amiga, a namorada, a filha, a profissional, a cidadã - todas elas me devoram devagar, mastigam cada pedaço da minha individualidade e engolem-na ruidosamente para o abismo das suas entranhas.

Acreditem, eu já não me lembro de mim. Doem-me os braços de tentar mergulhar profundamente no oceano da felicidade, do sucesso, do amor, da realização pessoal e nem um metro desci. Será possível que alguns de nós vivam anos simplesmente a boiar na água salgada?Os cabelos crespos de sal e a garganta dorida de gritar. Noite e dia. Verão e Inverno.

Lá em baixo os peixinhos nadam nos recifes de coral. Peixinhos que já foram pessoas, que mergulharam e harmoniosamente desceram até ao fundo do mar, construíram uma casa, tiveram filhos, estabeleceram as barbatanas como raízes e agora dizem-me um adeus de bolhinhas e caudas coloridas.

E eu aqui estou, a pele das mãos enrugada, os ossos gelados, a roupa colada ao corpo, prestes a desistir de nadar.
A combater estoicamente a vontade de partir todos os objectos frágeis, romper todos os tecidos, despir-me de todas as roupas e gritar este mundo e o outro pela janela.

Num canto, a frase que repetitivamente me assalta: "o meu melhor não é suficiente, o meu melhor não é suficiente, o meu melhor não é suficiente".

1 comentário:

Anónimo disse...

O seu melhor no lugar certo pode ser a questão.