A amiga, a namorada, a filha, a profissional, a cidadã - todas elas me devoram devagar, mastigam cada pedaço da minha individualidade e engolem-na ruidosamente para o abismo das suas entranhas.
Acreditem, eu já não me lembro de mim. Doem-me os braços de tentar mergulhar profundamente no oceano da felicidade, do sucesso, do amor, da realização pessoal e nem um metro desci. Será possível que alguns de nós vivam anos simplesmente a boiar na água salgada?Os cabelos crespos de sal e a garganta dorida de gritar. Noite e dia. Verão e Inverno.
Lá em baixo os peixinhos nadam nos recifes de coral. Peixinhos que já foram pessoas, que mergulharam e harmoniosamente desceram até ao fundo do mar, construíram uma casa, tiveram filhos, estabeleceram as barbatanas como raízes e agora dizem-me um adeus de bolhinhas e caudas coloridas.
E eu aqui estou, a pele das mãos enrugada, os ossos gelados, a roupa colada ao corpo, prestes a desistir de nadar.
A combater estoicamente a vontade de partir todos os objectos frágeis, romper todos os tecidos, despir-me de todas as roupas e gritar este mundo e o outro pela janela.
Num canto, a frase que repetitivamente me assalta: "o meu melhor não é suficiente, o meu melhor não é suficiente, o meu melhor não é suficiente".
1 comentário:
O seu melhor no lugar certo pode ser a questão.
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