quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Metamorfose

Eu era a lagarta frágil e tímida que se demorava nos veios frescos da folha.
Roliça e redundante no universo verde daquela floresta.
Guiada pelo instinto seguia o percurso cintilante das gotas de orvalho até ao inevitável abismo do vértice vegetal.
No fim do caminho a gigantesca disputa, os meus pequenos olhos esbugalhados perante a atmosfera infinita.
Iniciei o árduo trabalho de me enrolar em seda. Rodopiei até à exaustão numa dança fervorosa e geneticamente determinada.
No fim eu era apenas um corpo amorfo e imóvel à espera que os dias passassem. Nem morta, nem viva, no limbo da existência, esqueci quem era e transformei-me em algo diferente.

Borboleta!

sábado, 10 de dezembro de 2011

Sol de Inverno

É quase Inverno mas o sol brilha.
Hoje, como tantas outras vezes, o tempo assemelha-se ao meu estado de espírito.

Estou desiludida e nostálgica. O fluxo de sentimentos interrompido, a alma gelada como o clima lá fora. Mas, na ressaca da grande decisão, estou aliviada. Um peso enorme que desapareceu e um holofote de raios de sol que agora me ilumina amenizam o chão coberto de neve e as estalactites de gelo que pendem dos vértices do meu corpo.

Não me parece que houvesse Amor naquilo que eu era até ontem, entre a espada e a parede, humilhada e traída mas, ainda assim, a tentar encontrar uma migalha que salvasse a relação.
No início havia um bolo grande e cheio de afecto. Havia. Depois alguém o devorou sem remorsos deixando apenas estas migalhinhas milimétricas que eu, estupidamente, lambi do chão sujo.

Pelo menos agora, que não resta nada, não há desculpa para não começar de novo.