Não há prisão como esta casa, sem paredes ou grades, sem guardas, sem câmaras de vigilância.
O perigo é tão grande lá fora que todos nós, prisioneiros de olhos abertos, permanecemos encobertos neste fumo onde os raios de sol só chegam filtrados, as vozes soam a ecos e o futuro é este presente repetido.
Há sempre aqueles dois ou três que tentaram evadir-se (ignorando os apelos desesperados da consciência e da auto-preservação) e que regressaram de alma derretida, cegos da luz brilhante, agora encolhidos no seu frio quadrado de mosaico.
Lembro-me de ser bailarina neste fumo negro, de achar que era parte dele e de o respirar como num último fôlego. Mas o fumo não traz verdade. Traz apenas consolação.
Amanhã é o meu dia de saltar da cortina de vapor preto e expor a minha alma às altas temperaturas.
Se eu derreter por favor relembrem-me como a bailarina da luz.
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1 comentário:
Belo texto;
transcrever em prosa uma realidade sofrida é qualidade de poucos.
... já se mostrou bailarina.
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