segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A lua antecipa-se à escuridão total enquanto a princesa penteia 100 vezes o cabelo à janela do castelo de betão e tijolo:

Não tenho para jeito para me ir embora.
E por isso vou ficando, mesmo que as flores definhem e o vento gélido me anestesie os sentimentos. Encostada gentilmente à parede, a fumar um cigarro invisível, enredada no vício de aqui estar.

Sinto aquela náusea dos amores não correspondidos, dos amores antigos revisitados, dos amores não compreendidos.

Nem sequer há dragões que impeçam de aqui chegar, não há floresta densa nem mitos de uma morte lenta, mas ainda assim não tenho na minha curta vida visto príncipes, a cavalo, a pé ou de lambreta, ou aos trambolhões, ou empurrados ou sequer enganados à procura do caminho para o mundo sem-princesas.

Ouvi uma música e comecei uma incrível história da conspiração, parece portanto que o mundo é deserto de romantismo e o meu destino é tropeçar nas pegadas dos outros. É por isso que são estas belas horas da madrugada e eu aqui estou, o cabelo penteado, a fazer um curativo no pé direito, violento que foi o pontapé que dei na parede em que vivo encostada.
"Não cuspas na mão que te alimenta", remói ela na sua perplexidade de cimento.
E deve ter razão.

2 comentários:

Diana; ponto e vírgula. disse...

"O meu destino é tropeçar nas pegadas dos outros"... OLá, Clepsidra! Também escrevo e achei seu blog por acaso. mas essa frase não me pegou por acaso, afinal de contas, há muito tempo que a procuro para me definir e fui encontrá-la justamente fora de mim, a mágica identificação que a literatura proporciona... Sim, também há outras artes que a possam definir, mas não tão contundentemente como através da escrita, essa arte silenciosa, repleta de mistérios e escombros sombrios... Parabéns pelo seu texto e irei te seguir!

Daniele Thièbaut disse...

Como isso é verdadeiro!
Abraço
Dani