sexta-feira, 5 de março de 2010

Prólogo

Quando o despertador tocou e passei do sono para o torpor matinal ainda não havia claridade lá fora.
Já não me lembro se me espreguicei ou se apenas pensei em fazê-lo.
Alcancei a mesa de cabeceira com um gesto cego da mão e agarrei com força o telemóvel. Deixei-me transportar no tempo para as horas tardias e as coisas escritas. Talvez tenha esboçado um sorriso triste.
Levantei-me lentamente e deslizei para fora do quarto.
A água quente no corpo semi-adormecido teve um efeito calmante, deixei que me envolvesse completamente e desejei com força que as minhas angústias se evaporassem com a água tépida.
Mais uma vez a chuva aguardava-me lá fora, rítmica e inevitável, indiferente aos percalços e desventuras dos simples mortais.
Vesti-me.
O cabelo, hoje mais ondulado do que o habitual, apoiou-se docemente sobre os meus ombros estreitos e enquadrou um rosto estranhamente inexpressivo.
Fecho a porta atrás de mim e percorro automaticamente o caminho até à paragem do autocarro.
É cedo. A cidade ainda não acordou mas pequenos ruídos e movimentações denunciam um vulcão adormecido que, tal como eu, está prestes a entrar em erupção.

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