sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Varanda

Estou na varanda.
Quem me dera poder gritar acima de todos estes telhados e candeeiros.
Erguer a minha voz sobre as avenidas iluminadas, sobre as sete colinas e sobre o rio.
Queria que a minha alma fizesse ressonância em todas as estruturas humanas, em cada esquina, em cada prédio.
Queria que aquele homem que ali está sentado, com o cigarro entre os dedos, magro e cinzento fosses tu Álvaro, recitando numa loucura mais ou menos subtil:


"Vem, Noite antiquíssima e idêntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite
Com as estrelas lantejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito.

Vem, vagamente,
Vem, levemente,
Vem sozinha, solene, com as mãos caídas"

in Dois Excertos de Odes. Álvaro de Campos


E de novo o meu grito, talvez ainda o eco de há pouco a misturar-se com as tuas últimas palavras.

Uma derradeira baforada de fumo e o teu aceno, rápido, para a única varanda iluminada.

1 comentário:

Pedro_Berenguer disse...

Adoro Álvaro de Campos! :X