sábado, 14 de abril de 2012

Casa de Fumo

Não há prisão como esta casa, sem paredes ou grades, sem guardas, sem câmaras de vigilância.

O perigo é tão grande lá fora que todos nós, prisioneiros de olhos abertos, permanecemos encobertos neste fumo onde os raios de sol só chegam filtrados, as vozes soam a ecos e o futuro é este presente repetido.

Há sempre aqueles dois ou três que tentaram evadir-se (ignorando os apelos desesperados da consciência e da auto-preservação) e que regressaram de alma derretida, cegos da luz brilhante, agora encolhidos no seu frio quadrado de mosaico.

Lembro-me de ser bailarina neste fumo negro, de achar que era parte dele e de o respirar como num último fôlego. Mas o fumo não traz verdade. Traz apenas consolação.



Amanhã é o meu dia de saltar da cortina de vapor preto e expor a minha alma às altas temperaturas.

Se eu derreter por favor relembrem-me como a bailarina da luz.

1 comentário:

Thuan Carvalho disse...

Belo texto;

transcrever em prosa uma realidade sofrida é qualidade de poucos.

... já se mostrou bailarina.